quinta-feira, 25 de julho de 2013

O QUE É SEGURANÇA?


Todos nós sabemos que temos o direito à segurança, ancorado no artigo III da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal

Segurança é uma daquelas palavras que usamos tão frequentemente no nosso dia a dia que parece ser desnecessário perguntar o que significa. Mas se paramos a pensar nesta palavra, mal conseguimos defini-la. Só sabemos que é muito importante para nossa sobrevivência e bem-estar. 

 Quando pensamos em segurança, pensamos em uma restrição à liberdade. O segurança do banco limita sua liberdade de ir e vir, o alarme e a grade na janela de sua casa também o impedem de entrar e sair de sua casa como quiser. Eles restringem sua liberdade, mas ao restringirem, eles a garantem impedem que alguém roube seu dinheiro no banco ou entre em sua casa sem ser convidado e assim por diante. Logo, segurança é uma forma de, através de uma restrição de uma liberdade menor, alcançar uma liberdade maior.

Esses conceitos de segurança ajudam a compreender melhor o que segurança significa, mas não existe uma definição correta ou incorreta de segurança pois ela é relativa e subjetiva. Isso significa que segurança representa algo diferente para cada um de nós, não apenas em termos de personalidade, como também de contexto, pessoas em situações diferentes terão percepções diferentes de segurança.  Existem múltiplos tipos de segurança, mas o valor que atribuímos a cada um depende só de nós. 

Em português, a palavra 'segurança' serve para denominar tanto algo real quanto algo imaginário. Em inglês, existem duas palavras diferentes: security e safety.

Security é algo objetivo: o quanto determinado sistema é seguro ou o quanto sua casa é segura ou o quanto você está seguro. 
Safety é algo subjetivo: o quanto você se sente seguro, o quanto você acha que o sistema é seguro, ou o quanto você acha que sua casa está segura. Security é fato, safety é percepção. Em português, infelizmente, a mesma palavra  ‘segurança’ é usada para falar das duas coisas, e isso causa enorme confusão.

Quando você ouve falar que estamos menos seguros, você não sabe se estamos falando de um fato ou de como as pessoas percebem os fatos. As duas dimensões do fato e percepção, são importantes, mas por questões diferentes, e precisamos ter isso em mente todo o tempo.

Você, por exemplo, já deve ter andado por uma rua estranha a noite e sentido medo. Mas isso não quer dizer que aquela rua era menos segura que a sua. Aquela era sua percepção. O mesmo ocorre quando o avião no qual você está chacoalha no meio de uma turbulência; a probabilidade de o avião cair continua a mesma de quando não havia turbulência (turbulência não derruba avião), mas sua percepção mudou.

Há dois problemas nessa dicotomia entre percepção e realidade.

Primeiro, percepção varia de pessoa para pessoa. Um alpinista se sente mais seguro no alto de uma montanha do que alguém que detesta alturas, mas isso não quer dizer que um esteja mais seguro do que o outro.

Segundo, segurança, como fato, não é algo que se tem ou não tem. É uma questão de gradação. Se formos analisar apenas do ponto de vista técnico, tudo é inseguro. Não há nada perfeitamente seguro. Mas há diferentes graus de segurança. Uma casa com as portas abertas à noite em um bairro violento de uma grande cidade é menos segura do que a mesma casa com as portas fechadas em uma ilha isolada. Mas isso não quer dizer que a casa da ilha é totalmente segura. Ela é apenas mais segura do que a da cidade. 

A questão passa ser, portanto, qual é o grau aceitável de segurança. E para isso, precisamos voltar a misturar os dois pontos acima:

Primeiro, como segurança tem uma faceta objetiva, o quanto de ataque o sistema ou mecanismo de segurança consegue resistir, qualquer sistema ou mecanismos de segurança (uma porta ou um cinto de segurança são mecanismos de segurança, um alarme ou um punhado de policiais na rua é um sistema de segurança), precisa ser calibrado para o grau de risco aceito por quem quer protege-lo. Poderíamos colocar um tanque de guerra e dez soldados na frente de cada casa para termos certeza que ela jamais seria roubada, mas isso não justifica o custo desses sistema frente ao risco ao qual estão expostos: estatisticamente, apenas uma pequena fração das casas são roubadas. Um presidente anda com guarda-costas porque ele está exposto a um risco maior do que uma pessoa comum. Um ministro anda com menos guarda-costas do que um presidente e mais do que uma pessoa comum porque ele está entre esses dois extremos.

Mas aí aparece a segunda parte do problema: a sociedade é composta por milhares de indivíduos, e cada um com uma percepção de segurança diferente. Logo, não há uma percepção de segurança: há milhares, o que torna impossível achar uma solução que agrade a todos e que, ao mesmo tempo, seja de fato necessária e tenha um custo aceitável. Se todos tivéssemos um tanque de guerra na frente de nossa casa ou um grupo de guarda-costas, teríamos que pagar impostos suficientes para isso. E poucas pessoas têm de fato dinheiro para pagar por tal nível de segurança.

Em resumo, quando a segurança de fato é menor do que a percepção de segurança, estamos nos iludindo de que estamos seguros. E quando a segurança de fato é maior do que a percepção de segurança, também estamos nos iludindo, achando que precisamos investir em mais segurança do que deveríamos. 



O ideal, óbvio, é que a realidade e a percepção estejam alinhados, mas isso é raro de acontecer.

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